CAIXAS TELEFÔNICAS VIRAM ARTE EM FORTALEZA

A paisagem nas ruas de Fortaleza ficou mais alegres com uma nova imagem das caixas de transmissão telefônica. No começo, a autoria e o objetivo eram um mistério. Quem seria responsável pelos sorrisos largos e olhos grandes que enfeitam caixas de transmissão telefônica? Era o projeto de prefeitura para jovens que trabalham com grafiti? Uma iniciativa da empresa telefônica ? O início de uma campanha publicitária? A resposta é nenhuma das alternativas.

Depois de alguns dias de interrogações das pessoas que circulam pelas ruas e avenidas onde estão as 34 caixas de transmissão telefônica transformadas em alegres bolachas coloridas e sorridentes, o Jornal O Povo revelou o autor. Foi o artista plástico Narcélio Grud,de 32 anos, quem mudou a imagem das caixas telefônicas; mas não proclamou a autoria. Ele não assina as intervenções urbanas e diz que são um presente para a cidade.
A idéia levou dois anos de planejamento para se oncretizar.Antes, foi oferecida à empresa telefônica. A resposta negativa foi mais um desafio a ser vencido. Narcélio diz que a idéia é “ interferir no cotidiano da cidade, movimentar o olhar do pedestre, lançar um ar de curiosidade”. Todo mundo fica curioso ao passar perto das pinturas, que receberam o apelido de cabeções. O artista declarou ao jornal ``Achei a coisa do sorriso interessante, de jogar alegria pra cidade, trazer energia positiva, aliviar a coisa rude dos carros, da correria, da poluição. E é preciso ter um desapego, por isso não assino. Uma vez que o trabalho está na rua, não é mais meu, é da cidade``.
Foi o desejo isolado de transformar as caixas cinzentas, pichadas e poluídas por cartazes, em um motivo para tornar a passagem mais alegre e intrigante que deu origem a esses primos do Bob Esponja. Um desejo de tornar “Fortaleza Bela”, já que o slogan da prefeita Luiziane Lins não está sendo cumprido?
Narcélio declarou que pinta apenas as caixas que já estavam sujas ou pichadas. A assessoria de imprensa da Oi disse que a empresa não vai comentar a intervenção urbana. A prefeitura também não se manifestou.
A resposta da cidade acontece de várias formas, alguns acham os cabeções engraçados, outros feios, mais alguns consideram simpáticos. Engraçado é que Narcélio contou que viu uma das caixas telefônicas coberta com uma lona preta e perguntou na borracharia próxima quem tinha feito aquilo. Um borracheiro responde de pronto, fui eu. Porque ? “Não aguentava aqueles olhões me seguindo o dia todo”. O artista acha que cumpriu seu objetivo. Estimular a imaginação , intervir de forma alegre na paisagem da cidade. E prometeu mais cabeções ...
O interessante é que ninguém pinta em cima das caixas transformadas. Figuras masculinas e femininas que observam o movimento da cidade, caladas,atentas.O cidadão pode sorrir ou não. Não importa qual é a reação, o importante é que ela exista.
É o cidadão se apropriando do espaço onde vive, intervindo no ambiente de forma deliberada e com uma intenção clara tornar a cidade mais humana. Enquanto isso, retira sujeira e pichações que tornavam feia a paisagem para quem passa todo dia por uma mesma rua ou avenida.
A prefeitura bem que tenta dar uma melhorada na imagem visual da cidade, mas são muitos os out-doors irregulares e pouca gente para fiscalizar. São muros pixados, placas em postes, cartazes adesivados em muitos espaços públicos.

Narcélio Grud – Começou pichando aos doze anos, e aos 18 resolveu investir na pintura. Atualmente com 32, experimenta escultura, música, vitrines e outras linguagens artísticas. O trabalho de Narcélio está no site www.narceliogrud.com.br

Intervenção Urbana - acontece geralmente em espaços públicos no centro das grandes cidades. Pode ser desde aplicação de adesivos até grandes instalações artísticas. É considerada uma manifestação artística legítima, mas às vezes ainda passam por vandalismo. No Brasil, a intervenção urbana se mostrou com mais força a partir do final da década de 90. Os responsáveis foram principalmente grupos de artistas conhecidos como coletivos artíticos. Uma instalação conhecida em vários píses é a COW PARADE em que vacas em tamanho natural e pintadas pro artistas escolhidos, são espalhadas no centro de grandes cidades.

GRAFITI - feito com tinta spray em locais públicos ou privados como muros, viadutos, prédios e edificações variadas. É uma forma de expressão que está presente em praticamente todas as cidades. O grafiti que conhecemos hoje começou em Nova York nos anos 60. Os adolescentes carimbavam uma espécie de assinatura para marcar território e quem ia além dos limites dos quarteirões, ou em lugares considerados inacessíveis era mais reconhecido. É considerado uma faceta do movimento Hip Hop. As assinaturas, chamadas tags se desdobraram em novas letras, que viraram personagens e símbolos e fórmulas abstratas. Hoje o grafiti incorpora adesivos, panfletos, stencil, airbrush, giz com base em óleo e mesmo esculturas. O conceito grafiti está mais ligado ao traço, à técnica e à rua. Mas alguns grafiteiros já saem das ruas expões em galerias de cidades como Nova York e São Paulo.